Segundo Dia: aprendemos muitas coisas novas sobre o BFW!




Fotografia do refeitório do BFW Halle


Hoje já tomámos o pequeno-almoço no refeitório do Centro, que é um espaço muito agradável e bem adaptado, pleno de luz natural. 

Estamos bem instalados no Hostel do BFW, em quartos individuais com casa de banho privada.
Fotografia da fachada de um dos edifícios do BFW, com a sua arquitetura característica de tijolo
Temos também à nossa disposição, como qualquer outro utente do centro, uma pequena cozinha que já utilizámos para matar saudades do café de Portugal e uma sala de convívio, onde nos podemos reunir para conversar e ver um pouco de televisão – em Alemão, claro!Aqui no BFW a formação começa normalmente às 8h, decorrendo até perto das 17h. No entanto, à 2ª feira de manhã e à 6ª feira à tarde não há formação. Todas as aulas têm a duração de 45 ou 90 minutos. 

Existem diferentes cursos, que nós vamos poder visitar durante a nossa estadia. No geral, os cursos têm a duração de 2 anos. Durante o curso, no final de cada semestre os formandos têm uma avaliação formal. Durante o terceiro semestre tem um estágio de 3 meses, numa empresa aqui em Halle ou perto do local onde os formandos residem. São eles que procuram e realizam os primeiros contatos com estas empresas, com o apoio do BFW. No final de cada curso, é obrigatório o processo de avaliação externa, oficial, que concede uma certificação reconhecida em todo o país.

Para a maioria dos candidatos, a frequência destes cursos de formação é precedida de uma fase preparatória com a duração de um ano, que consiste num curso que os prepara para a formação. Neste “Curso de Preparação” são trabalhadas áreas como a Orientação e Mobilidade, o Braille (que é obrigatório para todos), a Informática e as Atividades da Vida Diária. Assim, quando os formandos ingressam nos cursos, já são possuidores de conhecimentos básicos e já desenvolveram as suas capacidades funcionais para se concentrarem nas tarefas relacionadas com a profissão que vão desempenhar. Por isso, a maioria dos estudantes estão aqui no BFW por 2 ou 3 anos. 

O BFW também responde a pessoas que só necessitam de realizar uma atualização das suas competências e melhorar as suas qualificações. Nesses casos, partindo-se das suas necessidades, é desenhado um plano de formação à medida e as pessoas estão aqui durante alguns meses, junto com outros grupos. Não estão num grupo fixo mas podem mudar entre os grupos.

Este nosso segundo dia de trabalho começou com a visita ao Curso “Office Management”, isto é, curso de Assistente de Gestão Administrativa. Esta profissão só existe desde 2013 e neste grupo de formação está o primeiro aluno cego total deste curso. Este curso tem a duração de 2 anos e esta turma tem neste momento 5 formandos. A nossa visita coincidiu com o módulo de Conceitos Básicos de Gestão de Recursos Humano, e o tema a ser trabalhado era a legislação alemã para pessoas com deficiência. Durante o curso os formandos passam por várias outras disciplinas como Gestão de Correspondência, Tabelas de Cálculo (Excell), Apresentações Gráficas (Powerpoint), Aquisição de Produtos, Marketing, Contabilidade e Comunicação.

A aula estava a ser orientada pela professora Petra Hoffmann, e a tarefa que estavam a realizar estava relacionada com a consulta online de legislação. Todos a trabalhar no computador, com base no site do Ministério da Justiça onde podem ser encontradas todas as leis, a professora colocava questões e os alunos tinham que consultar a legislação e responder à questão. Por exemplo, numa candidatura a emprego com vários candidatos com deficiência, como são estabelecidas as “prioridade” de entrada. A função dos alunos era encontrar informação na legislação sobre isto.

O tema em debate e a abertura quer da professora como dos alunos deu-nos oportunidade de colocar algumas questões sobre o sistema legislativo alemão em relação às pessoas com deficiência. Ficámos por exemplo a saber que o Sistema de Reformas é regido pelo princípio de que primeiro a pessoa deve sempre passar pelo processo de reabilitação profissional e tentar de novo reingressar no mercado de trabalho. E está provado que isso sai mais barato ao Estado – por exemplo, mesmo que a pessoa arranje um trabalho só a meio tempo, mesmo assim custará menos ao Estado do que se estiver reformada, havendo ainda a vantagem de continuar à mesma a contribuir para o sistema.

Na Alemanha, as empresas tem obrigatoriamente que possuir trabalhadores com deficiência. Existem quotas que se não forem cumpridas implicam que a empresa tenha que pagar uma multa. Os valores obtidos com essas multas são depois reinvestidos na aquisição de equipamentos para pessoas com deficiência. A quota é de 5% a partir de 20 funcionários, para todas as empresas – não só para o Funcionalismo Público. O valor a pagar de multa depende do tamanho da empresa. 100 a 300 euros por mês, dependendo da percentagem de pessoas com deficiência que emprega.

Em média, a quota de 5% é alcançada, mas os resultados variam e dependem do estado da Alemanha. No Funcionalismo Público esta quota é normalmente ultrapassada mas as empresas alcançam em média 2 a 3%.

Em seguida fomos visitar a área de Orientação e Mobilidade onde estivemos à conversa com o formador Mario Vollmar que nos explicou quais são as suas funções e como são realizadas as aulas de orientação e mobilidade. Basicamente, todos os utentes do centre podem requerer este tipo de aulas, conforme as suas necessidades. Este técnico mostrou-nos também muito material que tem vindo utilizando, ao longo dos tempos, para construir material de apoio não só à sua área mas também a outras, como a realização de material em relevo.

A meio da manhã fomos convidados para nos juntarmos a alguns dos formadores para uma conversa informal, durante o seu intervalo da manhã. À volta de café, chá e bolinhos, a conversa incidiu sobre diversos aspetos do funcionamento do centro e pudemos constatar o ambiente amigável e de entreajuda que se vive neste grupo de profissionais. 


Fotografia da reunião informal, durante o intervalo da manhã


Foi também uma excelente oportunidade para ficarmos a conhecer um pouco mais da história do Centro e do que aconteceu quando a Alemanha foi reunificada. É de realçar que a cidade de Halle se situa na parte Ocidental da Alemanha e que por isso o Centro BFW era um serviço que respondia às necessidades da República Democrática da Alemanha (Alemanha de Leste). A reunificação foi um processo complicado para toda a Alemanha. Para estes profissionais, foi um momento de grande incerteza sobre o seu futuro e sobre a validade de todo o trabalho que haviam realizado até aí. Mas tudo correu pelo melhor, muito por influência da pessoa que era na altura responsável pelo trabalho dos BFW que trabalhavam na área da deficiência visual, que reconheceu e validou o trabalho realizado neste centro, mantendo a maioria dos seus funcionários.

O curso que visitámos de seguida foi o de “Assistant Manager for Informatics”, isto é, Técnicos de Apoio Informático. Neste caso, pretende-se qualificar os formandos para prestarem apoio aos utilizadores para a resolução dos problemas comuns relacionados com a utilização do computador, assim como os preparar para gerir o material informático.